Nos últimos anos a imprensa ipiauense tem atuado de maneira no mínimo interessante. Tenho acompanhado com curiosidade a atuação jornalística de blogueiros, radialistas e redatores da imprensa local. No mínimo pode se dizer que houve uma expansão significativa daquilo que os teóricos chamam de esfera pública, com o surgimento de uma imprensa dinâmica, agil e de acesso fácil aos cidadãos/cidadas ipiauenses até então submetidos `a ditadura das rádios locais que emporcalham as idéias e interditam o debate consciente e plural.
É nos blogs – Ipiaú Hoje, Ipiaú Notícias, Notícias de Ipiaú, Ipiaú Online e mais recentemente o Informe Ipiaú, entre outros - que acompanho com tristeza os rumos daquela que já foi a Cidade Modelo da Bahia. Com o fim da exigência do diploma de jornalismo, nossa esperança é que os profissionais da imprensa local assumam cada vez mais o protagonismo no debate político e na defesa dos interesses coletivos; afinal, ‘jornalismo é serviço público, não é espetaculo’!
O que não é bom e não me agrada, é a falta de ousadia política que muitos dos meus colegas jornalistas não têm tido. Navego pelos diferentes sites e vejo uma reproducão quase simultânea das notícias oficiais, com exceção de Ipiaú Hoje que, apesar dos seus partidarismos, tem feito uma cobertura mais incisiva, mais corajosa e mais equilibrada. Veja-se por exemplo a última decisão do Tribunal de Contas dos Municípios sobre a rejeição parcial das contas da administracão municipal. A notícia não era, como se quis vender, a de que o prefeito teve suas contas aceitas, mas sim a de que o gestor público foi punido com a obrigação de devolver quase R$ 50.000,00 aos cofres publicos municipais. Esta material em sí ja era o fato que a imprensa local, com exceção de Ipiau Hoje, tentou negar vendendo ‘o boi pelo bife’.
Ao invés de investir na disputa cretina entre quem é mais ou menos corrupto, a imprensa ipiauense faria bem em fiscalizar e ficar de olho na indepêndencia política do TCM e da Câmara de Vereadores. No que diz respeito ao TCM, poderia se comecar explicando ao leitor quem escolhe os conselheiros, como é feita a análise das contas públicas, quais os mecanismos legais para o controle da transparência.Quanto `a Câmara de Vereadores de Ipiaú, sobram pautas jornalisticas ali. A Câmara tem um histórico de arrepiar! Deus-me-livre mangalô-três-vezes!
A credibilidade da imprensa local se baseia na sua coragem de defender os interessses da sociedade. Pouca gente dá credibilidade ao conteúdo porco do jornalismo radiofônico – em que se pesem as honrosas exceções – que sustenta os interesses político-partidários daqueles que eternamente se revezam no poder. Ainda que o rádio continue tendo a sua audiência cativa, a internet congrega agora uma massa de leitores críticos, famintos por um jornalismo sério, corajoso e acima de tudo responsável.
Quando da minha rápida passagem por Ipiaú em 2004 eu perguntei ao atual prefeito, em um programa-piloto em uma rádio ate então Livre, como ele poderia explicar as denúncias de que teria sido demitido, ‘a bem do serviço publico’, da sua função como médico. A pergunta não estava fora de lugar porquê o prefeito era então candidato exatamente a uma função pública. Ele me devolveu a pergunta com quatro pedras na mão, questionando a legitimidade do meu ofício: você é daqui? Você conhece a cidade? Quem é voce, rapaz? E eu respondi: eu sou Jaime e minha função é perguntar. O senhor fique livre em responder ou não. Os meus colegas jornalistas hão de concordar comigo. Perguntar não ofende.
Ainda assim, me preocupa que misteriosamente poucos jornalistas locais têm assumido sua função basica: perguntar. Quem questionou a fundo a assinatura de contrato aparentemente no mínimo lesivo ao erário público entre a Prefeitura e empresas de lixo? Quem levantou perguntas sobre o Parque da Cidade, as verbas ali destinadas, os custeios, as planilhas de gastos com aterro e planificação, o montante real de recursos destinados `a Prefeitura e as empresas prestadoras de serviço? E as compras da Prefeitura no comércio local, quais os critérios de preferência, quais as empresas que se beneficiam e por quê? Qual a planilha de gastos médios mensais da Prefeitura e da Câmara de Vereadores com gasolina? Que diabos os carros oficiais, de uso exclusivo em serviço, fazem rodando pelas ruas fora do expediente nos finais de semana? A funcão do jornalista é perguntar!
Uma última palavra: vem aí as eleições municipais e aumenta a nossa expectativa de que os profissionais sérios da imprensa local não se deixem seduzir pelo canto da sereia. Se quiserem, eles podem colocar suas vozes a serviço de um debate de idéias sobre a Ipiaú que queremos. O que estaráem discussão nao é apenas a falta de projetos politicos das duas forcas atrasadas, nojentas e cínicas que têm dominado a política local. Estas forças, tenho insistido, têm usado a miséria da nossa gente como trampolim politico e não podem continuar onde estão. Eles não têm projeto político para a Ipiaúque queremos porque seus compromissos são com o poder, não com o povo.
O que realmente estará em discussão a partir de agora – e rezamos para que nossos colegas jornalistas aceitem o desafio – é que cidade queremos. Tomara que os profissionais da minha terra não aceitem a política da cenoura e do porrete. Quem conhece bem o jornalismo criminoso da mídia grande – principalmente concentrada no eixo Rio-São Paulo – sabe: a incestuosa relação imprensa/poder é um atentado `a democracia.
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