1 de mar. de 2011

“EUCLIDES NETO E O MUSEU DO LAVRADOR: CRIADOR E CRIATURA”.

                     Fotografia da inauguração do Museu em 1983

           “Para liquidar os povos, começa-se por lhes tirar a memória. Destroem-se seus livros, suas culturas e sua história”. 
Milan Kundera


                  O Museu do lavrador foi idealizado por EUCLIDES NETO, durante a gestão do prefeito Hildebrando Nunes Rezende, por ocasião das comemorações do cinqüentenário de emancipação política de Ipiaú, em 2 de dezembro 1983. O acervo, adquirido através de doações feitas pela comunidade, foi instalado no prédio da antiga prefeitura, dividindo o espaço com a Câmara Municipal.

           De acordo com o seu idealizador “o acervo traça muito bem a história de Ipiaú, principalmente o perfil do trabalhador rural e seus instrumentos de trabalho” (Euclides Neto). Ressalte-se que os objetos não se limitam apenas ao trabalhador da roça de cacau, mas, abrange as diversas atividades operárias que, através de suas profissões, prestaram e prestam serviços mediante a sua mão de obra. Exemplificando, encontram-se no Museu do Lavrador, objetos representativos de profissionais como, músicos, ferreiros, alfaiates, sapateiros, farmacêuticos, tabeliões, vaqueiros, médicos, dentre outros, demonstrando a pluralidade dos labores que forjaram a “Região cacaueira”. Em 2002, o recém prefeito eleito, José Mendonça, em parceria com a Câmara de Vereadores, expulsou o Museu do Lavrador do prédio da Câmara Municipal, com a promessa de que seria reaberto, com manutenção adequada, à comunidade de Ipiaú em melhores condições de funcionamento para visitações. Entretanto, esta promessa não foi cumprida, não passou de um grande engodo. 

          O antigo local de funcionamento do Museu do Lavrador atualmente serve como gabinetes dos vereadores. Bem que os gabinetes, que tiveram um alto custo ao erário, poderiam ser projetados em um espaço que respeitasse o Museu do Lavrador, patrimônio Histórico da Região Cacaueira. Infelizmente, optou-se pela saída mais absurda, em nome do progresso de alguns poucos (vereadores), outros tantos (da comunidade) tiveram o único museu da cidade, com valor histórico-cultural inestimável, deletado de forma premeditada e irresponsável. Mas, pensando bem, seria muita ingenuidade acreditar que um prefeito latifundiário e plutocrático preservasse e revitalizasse um museu que homenageia os Lavradores (Trabalhadores Rurais), ou quaisquer outras categorias de trabalhadores.

           Afinal os gestores públicos possuem as mesmas prerrogativas, todavia cada qual age conforme seu caráter. Por exemplo, Euclides Neto está indelevelmente preservado na memória de muitos, sobretudo dos humildes, não por ter dado esmolas ou exigido obediência e votos em troca de favores ou apadrinhamentos políticos. Ao contrário, “Dotô Ocridi”, como era chamado pelos trabalhadores anônimos, combateu este tipo de expediente, preferia agir  produzindo oportunidades, estimulando a dignidade humana e autonomia, nada de cobrar em forma de votos a obra realizada, fazer propaganda eleitoral à custa da necessidade do próximo, isso é ridículo... Asqueroso! Euclides Neto nos quatro anos do seu mandato de prefeito (1963 a 1967), mesmo ameaçado pelo governo Militar de perder o mandato, acusado de práticas comunistas, deixou importantes legados: a Fazenda do Povo (Fundada em 06/1963, primeira iniciativa de Reforma por um prefeito no Brasil), a Fundação Hospitalar de Ipiaú, o Ginásio Agrícola Municipal de Ipiaú-GAMI (atual CEI), a Escola do Menor, o Bairro da Democracia, o Horto Florestal, o Parque de Exposições, abertura da estrada para Córrego de Pedras, consequentemente por tais obras, entre outras, Ipiaú recebeu com méritos o título de Município Modelo da Bahia, em Dezembro de 1966. 

          No entanto, Além de uma vasta e rica literatura regionalista, o maior legado de Euclides Neto foram seus ideais de justiça, ética, equidade social e coerência que perpassaram por sua vida até seu último suspiro, e continuam vivos inspirando novos lutadores a não se renderem jamais... Brademos pela revitalização do Museu do Lavrador, imprescindível para a preservação da identidade cultural regional, reavivando a sábia iniciativa pioneira do insigne Euclides José Teixeira Neto.
         
 “O Prefeito livre e sadio de consciência não odeia nem persegue. Só os deformados mentais pensam em vingança”. Euclides Neto.
  IPIAÚ-BA, 12/2008.


Obs: Este texto foi escrito em Dezembro de 2008. Infelizmente, a Gestão do prefeito Deraldino, igualmente a gestão Mendonça, manteve o mesmo tratamento de abandono e desprezo ao Museu do Lavrador, importante espaço de preservação da cultura, história e memória de Ipiaú.


3 comentários:

  1. Excelente postagem, professor! Todos cidadãos deveriam ter o máximo de zelo com a coisa pública e com a cultura de sua cidade! Um abraço.

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  2. parabéns prof albione uma sugestão fala um pouco sobre o esporte em ipiau se tem algum projeto sicial se eles estão pensando nisso ou ja existe.

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