30 de jul. de 2011

US$ 1 BI A MAIS NUMA MINA DE NÍQUEL NA BAHIA (MIRABELA)

Nepomuceno, presidente da Mirabela: vendas garantidas até 2014

Ao adquirir uma pequena mina no interior da Bahia, um grupo de investidores australianos depara-se com a maior descoberta de níquel dos últimos 20 anos no país.

São Paulo - Na tarde de 26 de junho, cinco analistas de mineração representando bancos e fundos de investimento canadenses desembarcaram no aeroporto de Salvador com uma agenda pouco comum aos investidores que visitam o país. No roteiro, nada de minas da Vale ou da sul-afri­ca­na Anglo American.
De lá, o grupo seguiu em outro voo para uma região até bem pouco tempo atrás ignorada no mapa da mineração mundial. É ali, nas cercanias de Itagibá, cidade de pouco mais de 15 000 habitantes a 370 quilômetros da capital baiana, que fica a mina Santa Rita, a maior descoberta de níquel no Brasil nos últimos 20 anos.
A jazida foi parar nas mãos de três investidores australianos após um rápido processo de licitação conduzido pelo governo da Bahia em outubro de 2003 — mas, tão logo foi adquirida, uma série de estudos comprovou que a reserva, inicialmente estimada em 18 milhões de toneladas, era na rea­li­da­de quase dez vezes maior.
Feitas as contas, os australianos levaram cerca de 1 bilhão de dólares a mais que o esperado — e, de quebra, tornaram-se donos da terceira maior jazida de níquel do país. O governo baiano, é bom que se diga, não saiu perdendo. É que a negociação foi feita com base no pagamento de royalties até que a mina seja exaurida — ou seja, os australianos pagarão ao governo uma porcentagem do que retirarem. Os analistas gostaram do que viram.
"A base do projeto está quase completa. A Santa Rita deve se tornar em breve uma operação de nível mundial", escreveu David Charles, do banco de investimento GMP Securities, em seu relatório.
Embora desconhecidos por aqui, os australianos Bill Clough, Nicholas Poll e Craig Burton, que arremataram a Santa Rita, são veteranos no negócio de mineração. Clough é um dos fundadores da Serabi Mining, especializada na extração de ouro no Nordeste do Brasil, Poll trabalhou 20 anos na mineradora australiana WMC, adquirida pela também australiana BHP em 2005, e Burton investe em níquel na Aus­trália e na África há pelo menos dez anos (os dois últimos deixaram o negócio em 2010).
Para adquirir a jazida, o trio criou uma empresa chamada Mirabela Nickel, em alu­são à fazenda onde se localiza a jazi­da. Para financiar a nova empresa, os três decidiram abrir o capital da Mirabe­la nas bolsas do Canadá e da Austrália em 2004 e 2007. A promessa de dinheiro fácil — o níquel descoberto na Santa Ri­ta é do tipo sulfetado, raro e de fácil extração, o mesmo que o encontrado nas minas da Vale no Canadá —, aliada à expertise do grupo no setor atraiu bancos e fundos de investimento.
O americano J.P. Morgan e o Perpetual, um dos maiores bancos da Austrália, junto com outros investidores, injetaram 700 milhões de dólares na empreitada. “A Mirabela tornou-se um achado não só pela qualidade do níquel encontrado mas também por ter começado a operar rapidamente”, diz Geoff Breen, analista do banco RBC Capital Markets.
Parceria com o governo
Boa parte dessa agilidade pode ser creditada à maneira como a empresa se desenvolveu. Ao contrário do que geralmente acontece, os investidores da Mirabela já sabiam de antemão que se tratava de uma jazida de níquel quando  decidiram entrar no negócio, graças a estudos preliminares realizados a partir de 1998 pela Companhia Baiana de Pesquisa Mineral (CBPM), subordinada ao governo do estado.
"A CBPM até imaginava que a Santa Rita poderia dispor de um volume muito maior de minério do que os 18 milhões de toneladas encontradas nos estudos iniciais, mas não tinha embasamento técnico para ter certeza. E gigantes como a Vale e a CSN acharam o projeto pequeno e não se interessaram."
Em vista disso, o governo baiano sugeriu que os australianos fizessem a prospecção por conta própria. Em troca, levariam a mina sem desembolsar nada pela jazida — apenas pagando royalties pelo minério.
A prospecção, no entanto, não havia avançado por uma questão de custos — no caso da Mirabela, estimava-se que os gastos com pesquisa poderiam facilmente superar 120 milhões de reais. "Para não arcar com isso, os governos repassam o restante da pesquisa à iniciativa privada", diz Paulo Camillo, presidente do Instituto Brasileiro de Mineração.
Antes de realizar seu primeiro embarque, em 2009, a Mirabela já estava com  toda a sua produção comprometida até 2014 em contratos fechados com a Votorantim e a finlandesa Norilsk, de cerca de 2 bilhões de dólares. "Vamos dobrar a produção até o final do ano que vem", diz Luis Carlos Nepomuceno, presidente da empresa. "A Mirabela tem muito espaço para crescer."
Fonte - Revista Exame


Professor Albione Opina:

Enquanto os gringos exploram nossa riqueza mineral, numa transfusão de riqueza que nos explicitam as “veias abertas da América Latina”; na cidade de Ipiaú, situada a cerca de 5 km da mina, sentimos as conseqüências nos ouvidos, bolsos, pulmões, transito, segurança, saúde etc.
Os lucros bilionários da mineradora não trouxeram melhorias na qualidade de vida da população da cidade mais próxima da mina, IPIAÙ. Ao contrário, o que presenciamos após sua instalação foi o aumento exorbitante no custo de vida da população local. O valor de imóveis e aluguéis subiram sem precedentes em Ipiaú.
A saúde pública que já era caótica, antes da chegada da mineração, agora está na UTI. Mesmo com uma população fixa de 46 mil habitantes, aproximando, o Hospital Geral de Ipiaú, acredite, atende com apenas um médico plantonista, quando tem. Na Fundação Hospitalar de Ipiaú a realidade não é muito diferente.
Somos cotidianamente surpreendidos por detonações na mina de níquel causando abalos em imóveis na cidade, produzindo poeiras químicas no ar que respiramos, aumentando os números de doenças respiratórias, além dos incômodos estrondos.  Também, é público e notório o aumento elevadíssimo da criminalidade em Ipiaú; o nosso transito está estrangulado, nem se quer temos um só guarda de transito nas ruas, tampouco semáforos em pontos críticos, como a praça dos cometas e cinqüentenário.
Então ficam as perguntas:
Qual a contra partida da mineradora e do estado para reparar os transtornos que estamos passando com a chegada do progresso em Ipiaú? Se existem, diante dos lucros bilionários obtidos pela Mirabela, com "nosso minério", você considera suficientes ?
Que progresso é esse que beneficia apenas uns poucos em detrimento de outros tantos (comunidade local) ?
Passado o momento de euforias, com a instalação da mineradora, passamos a viver a realidade nua e crua com os efeitos deletérios em nossa cidade, gerando impactos sociais e ambientais em nossos espaços de convivências.
Algumas questões pertinentes diante do atual contexto que passamos!


3 comentários:

  1. Professor Albione Opina.
    Enquanto os gringos exploram nossa riqueza mineral, numa transfusão de riqueza que nos explicitam as “veias abertas da América Latina”, a cidade de Ipiaú, situada a cerca de 5 km da mina, sentimos as conseqüências nos ouvidos, bolsos, pulmões, transito, segurança, saúde etc.
    Os lucros bilionários da minerara não trouxeram melhorias na qualidade de vida da população da cidade mais próxima da mina, IPIAÙ. Ao contrário, o que presenciamos após sua instalação foi uma aumento exorbitante no custo de vida na população local. O valor de imóveis e aluguéis subiram sem precedentes em Ipiaú.
    A saúde pública que já era caótica, antes da chegada da mineração, agora está na UTI. Mesmo com uma população fixa de 46 mil habitantes, aproximando de 50 mil, com a população flutuante, o Hospital Geral de Ipiaú, acredite, atende com apenas um médico plantonista, quando tem. Na Fundação Hospitalar de Ipiaú a realidade não é muito diferente.
    Somos cotidianamente surpreendidos por detonações na mina de níquel causando abalos em imóveis na cidade, produzindo poeiras químicas no ar que respiramos, aumentando os números que doenças respiratórias, além dos incômodos estrondos. Também, é público e notório o aumento elevadíssimo da criminalidade em Ipiaú; o nosso transito está estrangulado, nem se que temos um só guarda de transito nas ruas, tampouco semáforos em pontos críticos como a praça dos cometas e cinqüentenário.
    Então ficam as perguntas:
    Qual a contra partida da mineradora e do estado para repara os transtornos que estamos passando com a chegada do progresso em Ipiaú? Se existe, você considerando suficiente, diante dos lucros bilionários obtidos pela Mirabela com nosso minério?
    Que progresso é esse que beneficia apenas uns poucos em detrimento de outros tantos (toda uma comunidade) ?
    Passado o momento de euforias, com a instalação da mineradora, passamos a viver a realidade nua e crua com os efeitos deletérios em nossa cidade, gerando impactos sociais e ambientais em nosso espaço de convivências.
    Questões pertinentes diante do atual contexto que passamos!

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  2. Tudo isso é verdade, a qualidade e o custo de vida do povo de Ipiaú só piorou. A criminalidade aumentou... Etc.

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  3. Toda evolução traz destruição, todo crescimento gera desconforto, todo conhecimento traz conflitos.

    Uma lugar nunca será o mesmo, depois das grandes modificações. Devemos aprender a conviver com o desconforto, com os conflitos e etc... ou continuaremos a ser sempre o lanterninha do campeonato.

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