1 de abr. de 2011

1982: MEUS 10 ANOS



Desde muito criança, ainda no colo dos meus pais, acompanhava as discussões políticas e campanhas eleitorais em Ipiaú. Em 1977, com 5 anos de idade, acompanhei a eleição que elegeu o José Borges de Barros Junior (Zequinha Borges), pelo Movimento Democrático Brasileiro- MDB.


 Durante o mandato de Zequinha Borges, ele se desfiliou do MDB, entrando para Aliança Renovadora Nacional (ARENA), partido que representava o governo militar durante a ditadura militar. Na eleição municipal seguinte,  em 1982, Hildebrando Nunes foi eleito prefeito de Ipiaú pelo PMDB. Neste mesmo ano, período de copa do mundo, primeira que acompanhei pela TV, ocorriam as eleições municipais para prefeitos e vereadores, garantia de muita festa e diversão, atraindo as atenções duma criança do interior que "abria os olhos para o mundo". Neste mesmo ano ingressei no Grupo de Escoteiros Davi de Souza, estava ainda na condição de “Lobinho” era uma espécie de patente inferior, para os mais novos, antes de chegar a ser escoteiro.

 Em um belo dia o chefe do grupo soube que eu havia deixado a reunião dos escoteiros para ir a um comício. Não deu outra, fui chamado a me explicar e repreendido a não ir para aquele lugar onde tinham pessoas criticando o governo. Mesmo não entendo bem o contexto daquela bronca, coisas das ditaduras, resolvi me afastar do grupo antes mesmo de chegar a escoteiro, mas  aprendi que deveria ficar sempre alerta. 


Como 1982 era ano de copa do mundo de futebol, divertia-me muito com a seleção canarinho, alcunha feita através duma música de autoria de Júnior, ex-jogador do flamengo, em homenagem a seleção brasileira na copa da Espanha. Boas lembranças do Flamengo na década de 1980, me proporcionando indescritíveis felicidades na década de 1980. Bons tempos da geração do Zico; nos Inspirávamos nele. Era emocionante assistirmos seus gols, antes da exibição da matinê,  no telão do Cine Éden na Praça Rui Barbosa.


Voltando às eleições, após os comícios, realizados em caminhões, ocorria sempre uma caminhada embalada pelas charangas, mini-filarmônicas, cantando marchinhas, exaltando as qualidades dos candidatos e seus partidos. Eram campanhas modestas, cheia de mística e superstições: iniciar a campanha na "Barroquinha", atual Praça do Cinquentenário, era vitória certa...  beiravam a ingenuidade!; muito diferente de hoje com seus marqueteiros e laboratórios com “suas fórmulas infalíveis” do vale tudo pelo voto, toma lá da cá. Atualmente prevalece os altíssimos gastos de campanhas motivadas pelos "olhos gordos" na galinha dos ovos de ouro  ou nas tetas da vaca leiteira, almejadas pelos aventureiro sedentos por receberem as senhas de acesso à gestão pública. 


Quem se lembra? de um lado garranchos, com seus gravetos de madeira carregados pelas mãos da garranchada, denominação do séquito do MDB em Ipiaú, gente da camada popular, ingressando na política institucional, candidatando-se a vereador; eram pedreiros, carpinteiros, taxistas, encanadores, lavadeiras de roupa, domésticas, corretores, ambulantes, etc. 

Do outro lado, a antiga ARENA já batizada PDS. No Partido Democrático Social o critério para participar das suas fileiras era a posição social destacada e influências junto aos representantes dos militares, aqueles que eram apadrinhados com os contratos para os cargos públicos, escolhidos a dedo sem concursos. Isso, como um prisão, gerando a obrigação da retribuição eleitoral... vozes que ecoavam um sonoro "TÔ COM ELE E NÃO ABRO", puro puxa-saquismo, enquanto durasse o benefício.

 Mesmo sem entender quase nada de política, ouvia minha mãe (D. Ivone) dizer que não iria lecionar na rede estadual, pois  os contratos eram passados apenas para os partidários da ARENA, para os membros do seu "curral eleitoral"; como meu pai (Alberto do Táxi) era do PMDB (Partido do Movimento Democrático Brasileiro) antigo MDB (Movimento Democrático Brasileiro), chegando a ser até suplente de vereador, após disputar a segunda eleição para o cargo, então minha madre não conseguiria lecionar para o estado, há menos que meu pai “virasse a casaca”, mudando para o partido do governo, coisa que não ocorreu.


Guardo muito bem na memória as primeiras caminhadas de liberdade pelas ruas desconhecidas da periferia de Ipiaú, no início da década de 1980, precisamente em 1982, quando eu corria atrás dos carros volantes de som, iluminados e bem acompanhados por crianças que, como eu na época, seguiam construindo a liberdade possível como forma mais  acessível de participação política.



  Albione Souza - Historiador.
Ipiaú-BA, 1º de abril de 2011.


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