18 de ago. de 2011

O triste destino de Ipiaú


                                                                               
           Por Jaime Amparo Alves*



O anúncio oficial de que a Bahia abrigará nos próximos anos novas universidades federais traz esperanca de novos investimentos na região do entorno onde as novas instituicoes serão instaladas. Já não é segredo para ninguém que a implantação de universidades em áreas estratégicas agrega outros investimentos na região, aquece o comércio, impulsiona a economia local e cria uma cadeia de geração de renda em que todos ganham. "Nós sabemos a diferença que um campus de um instituto federal ou de uma universidade faz nos municípios", acrescentou a presidenta Dilma. Será que o prefeito de Ipiaú também sabe disso? Acho que não.

Não é de hoje que venho insistindo que Ipiaú deve deixar de lado a obcessão com o desenvolvimento industrial e investir na atração de investimentos educacionais. Ipiaú tem vocação para ser cidade pólo educacional. Há tempos damos dicas de como o poder publico local poderia sair `a frente de outras cidades da região como Jequié e Itabuna e fazer uma campanha de atração de unidades de ensino federais para a região.


A implantação de cursos da Universidade do Estado da Bahia (Uneb) já criou impacto positivo na economia Ipiaúense, mas não é o suficiente. É preciso uma mobilização geral em Ipiaú pela expansão da Uneb com a criação de cursos competitivos como Enfermagem, Administração, Direito, Comunicação Social, Licenciaturas e Psicologia. Estes e novos cursos gerarão um ciclo de atração de investimentos com altos ganhos economicos e sociais para a cidade e região. 

É de se admirar, no entanto, que a prefeitura e Camara de Vereadores de Ipiaú assistem de bracos cruzados os anuncios de criação das novas universidades sem nenhum esforco para que Ipiaú seja contemplada com tais unidades. A presidenta Dilma Roussef anunciou durante sua campanha eleitoral a criação de 500 unidades dos IFCEs (Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia). Pelo Brasil afora, gestores consicientes  do impacto positivo de tais investimentos em seus municipios fizeram uma corrida `a presidenta oferecendo contrapartidas como instalacoes fisicas e terrenos buscando abrigar uma unidade. Ipiaú assistiu de bracos cruzados o anuncio de que Itabuna e Jequie receberiam as escolas tecnicas da região. 

Agora, a criação em Itabuna, da Universidade Fedral do Sul da Bahia (Ufesba), anunciada na ultima semana pela presidenta, é o novo capitulo de um ciclo de investimentos federais de reducão da pobreza em territorios da Cidadania, dos quais Ipiaú continua de fora. A obcessão com grandeza em Ipiaú faz com que o poder public gaste o dinheiro publico e o seu capital politico em projetos faraonicos de Parque da Cidade ou a esquizofrenia em imitar as cidades médias com suas ruas asfaltadas. E como os problemas de Ipiau fossem resolvidos no dia em que a cidade tiver mais ruas asfaltadas, viadutos,  semaforos, mais carros e mais industrias. 

Nada contra o que os entusiastas chamam de ‘progresso’. Chamo atencão aqui é  para a confusão dos diabos entre desenvolvimento e crescimento. Ipiaú poderia continuar com suas ruas de paralelepípedos que lhe são peculiar, continuar com sua Praca do Cinquentenario sem postos de gasolina, e continuar com seus festejos religiosos na Praca Rui Barbosa. Ao inves das distracoes com bobagens desta natureza, a cidade deveria fazer uma escolha política por um desenvolvimento sustentável, limpo e seguro que transformasse a cidade em polo-educacional. 

Imagine o leitor o impacto extraordinário na realidade regional com Ipiaú se transformando em celeiro de produção do conhecimento? Imagine as parcerias estratégicas que poderiam ser criadas para que fazendas da região se transformasse em universidade rural e polo de pesquisa em biotecnologia? Qual seria o impacto na saúde pública do entorno se a prefeitura lutasse para que a antiga Cemil ou a Fundação Hospitalar se transformasse em faculdade de ciências medicas, um campus da nova Universidade Federal do Sul da Bahia? Imagine o salto extraordinario na qualidade de vida, na renda, e nas oportunidades socias se a luta pela expansão da Uneb, ou a criação de um campus avancado da Uesc fosse uma prioridade da gestão publica Ipiaúense.

Ipiaú não é prioridade nos investimentos federais porque Ipiaú não é prioridade da administração local. Eles simplesmente não têm projeto estratégico de desenvolvimento local e não têm compromisso com nossa gente. Nunca tiveram. Nossa unica saida é mobilizar a juventude local, os comunicadores sociais, as igrejas e os movimentos sociais emu ma campanha urgente para que aquele que já foi o municipio modelo da Bahia não seja o exemplo do fracasso.

A metafora que mais lembra o fiasco da Ipiaú atual é o edifício Santa Paula, um fatasma estancado no centro da cidade. O edifício é exemplo vivo dos equívocos contínuos de quem confunde qualidade de vida e desenvolvimento com mania de grandeza. Eu gosto mesmo é da cidade pequena, pacata e bonita que Ipiaú sempre foi. Não gosto  é  dos projetos megalomaníacos de gestores esquisofrênicos sem compromisso com nosso povo. A Ipiaú do futuro so sera uma cidade desenvolvida se for uma cidade justa para a sua gente. E uma cidade que se quer justa precisa estar a frente dos desafios do seu tempo.

Ha duas possibilidades para a nossa terra: uma é sermos cidade-satelite de Jequié e dos novos potenciais centros que surgem com investimentos em Barra do Rocha e Itagibá, ou assumirmos uma vocação para sermos a cidade ambientalmente limpa e socialmente justa que combina educação universitaria, turismo rural e produção cultural como seus eixos estruturais.

E voce, vai recusar este debate? A cidade que a gente quer comeca agora.

Jaime Amparo-Alves

É  jornalista, Ipiaúense, e antropologo pela Universidade do Texas em Austin/EUA



-- A paz e' fruto da justicaPeace is fruit of justiceLa paz es fruto de la justicia



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