8 de mai. de 2012

AMANDA GURGEL TEVE PRESENÇA MARCANTE EM APOIO A GREVE DOS PROFESSORES BAIANOS




A professora Amanda Gurgel esteve nesta segunda (7) em Salvador para apoiar a greve dos professores baianos e falou com exclusividade para o Bahia Todo Dia. Amanda ficou conhecida depois que fez um discurso em defesa da educação pública, na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Norte, dirigido ao governador daquele estado, e o discurso ganhou o Brasil e o mundo via Internet.

Nesta entrevista ao jornalista Edson Miranda, Amanda comenta sobre a situação da educação brasileira, questiona o que ela chama de autoritarismo governista do PT e manda um recado para o governador Wagner, político a quem deu seu primeiro voto, aos 16 anos de idade, quando o atual governador da Bahia foi candidato a prefeito de Camaçari na Bahia.

Qual a situação das greves de professores atualmente no Brasil?

Existem ainda 5 estados em greve, exigindo o piso da categoria e o repasse do índice de 22,22% que corrigiu o Fundeb. São eles, Sergipe, Piauí, Santa Catarina, Amapá e Bahia. No Piauí o governador, Wilson Martins, acenou que cumpriria o piso, mas depois que os professores resolveram terminar a greve, ele apresentou outra proposta parcelando o índice. Diante dessa situação, a categoria faz nova assembleia hoje e a greve, que já dura mais de 90 dias, deve continuar.

Qual o panorama da educação no Brasil?

A situação piora a cada dia. Quando a gente pensa que não tem mais para onde cair, cai ainda mais. Na minha cidade, Natal capital do Rio Grande do Norte, a precarização da educação é assustadora. As empresas terceirizadas, por exemplo, contratam pessoas na condição de agentes de limpeza para assumir salas de aulas.

Infelizmente, tenho que admitir que a minha cidade é pioneira nessa prática, mas possivelmente essa situação não deve ficar restrita à cidade de Natal. Da maneira que a precarização avança, é bem provável que daqui a um ano isso também ocorra em outros locais e se torne algo normal.

Para agravar ainda mais essa realidade, governos como o de Wagner terminam atingindo a dignidade da nossa categoria quando não cumprem a lei do piso e, ainda por cima, cortam salários e outras conquistas. Tenho certeza que devemos travar fortes lutas para garantir o mínimo e para manter a dignidade dos professores em todo o Brasil.

Como a senhora vê a reação dos governos atuais?

Existem duas faces: a primeira, é que a nossa categoria já viveu e conhece muito bem a experiência da truculência, do autoritarismo e da arrogância de governantes. A segunda, que é uma nova experiência autoritária surpreendente, vem do fato de ser um governo do PT. Partido que construiu nossas lutas e, com isso, conseguiu muitas das conquistas que temos hoje.

Os governos petistas, nesse sentido, se comportam pior do que os governos dos partidos de direita. Acredito que o positivo de tudo isso é o fato da população começar a perceber que o PT no governo não é diferente dos outros partidos de direita, a exemplo do PSDB.

Que medidas são importantes para melhorar a educação?

A péssima situação da educação pública no Brasil e seu avançado e constante estado de precarização é fruto de uma política nacional de baixo investimento e desvalorização do papel do professor.

Os governos, historicamente, tiveram como prioridade injetar dinheiro público nas empresas privadas e o pagar altos juros com a amortização da dívida. Se fizermos uma retrospectiva, vamos verificar que educação nunca foi prioridade para esses governos.

Acredito que com algumas medidas - destinação de 10% do PIB para a educação, melhoria salarial dos profissionais, evitar a superlotação das salas e a adoção de recursos didáticos pedagógicos para acabar com a evasão escolar - já poderíamos sair da degradante condição atual para uma fase de afirmação do setor.

Como a senhora viu a repercussão que teve sua fala em defesa da educação, num evento na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Norte, com a presença do governador do estado?

Já havia feito vários discursos anteriormente. Sou ativista desde o movimento estudantil. Foi mais uma oportunidade que tive de falar, mas, diferente das falas anteriores, essa repercutiu bastante na Internet e nas redes sociais. Foi importante porque mostrou que o problema da educação no Rio Grande do Norte é o mesmo em todos os estados brasileiros. Mostrou para o Brasil inteiro que não é um problema de incompetência dos professores nem de burrice de alunos, como vários governantes ainda insistem em afirmar. É um problema de política nacional, por isso é fundamental unificarmos a luta em todo o país.

Que recado a senhora mandaria para o governo baiano.

Mando um recado em forma de relato: “morei durante 3 anos em Camaçari. Votei pela primeira vez aos 16 anos. Votei em Jacques Wagner para prefeito de Camaçari. Se fosse hoje não votaria mais nele. Tudo isso é uma grande decepção. Muitos trabalhadores da educação, como também muitos outros de várias categorias não esperavam esse autoritarismo, essa prepotência toda”.

“Wagner lembre-se do tempo em que você era sindicalista e se coloque nas condições desses trabalhadores, assim você pode entender que estamos lutando por uma reivindicação justa, não por se tratar do cumprimento de uma lei, o que já é bastante significativo para um governante, mas porque são mães e pais de família que dependem desse trabalho e de boas condições para continuarem ajudando e interferindo positivamente no futuro da Bahia”.

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