Por * Vitor Hugo Martins
Como sabemos, não há texto sem contexto, e vice-versa. Assim, o homem, ainda o mais primitivo, o cavernoso, produzia seus textos rupestres, os quais remetiam, é claro, aos seus contextos, os imediatos, a caça e a guerra, e os mediatos, as divindades. E entendamos logo o que chamamos aqui de texto: um conjunto de signos verbais e/ou não-verbais, que, selecionados e combinados, produzem sentido(s).
Cultura pressupõe a mente, o coração e a mão do homem sobre a Natureza.Daí nos vêm as uvas para os nossos vinhos, os sons dos pássaros para as nossas canções, as árvores para os nossos livros... Cultura é imprescindível, sim, para a natureza humana.
Assim não pensa, infelizmente, o atual Alcaide (permitam-me aqui o arabismo, caros leitores) desta Ipiaú, cidadezinha baiana, minha casa, minha oficina, minha musa, há oito anos. E, esclareçamos logo de saída, não é que faltem produtores de cultura e artistas a esta terra em que surgiu Euclides Neto (1925 – 2000), um prefeito/ficcionista (ou ficcionista/prefeito), baiano de indelével memória. Pesquisem a História baiana, conheçam Ipiaú, ouçam os ipiauenses, leiam a ficção e a não-ficção de Euclides Neto, que vocês me darão razão, pacientes leitores.
É certo, a cultura ipiauense basicamente vem da terra, vem da monocultura cacaueira. Isto foi seu bem, ontem; isto é seu mal hoje. Provam-no, à perfeição, a vida e a obra do prefeito/ficcionista (ou ficcionista/prefeito) citado no parágrafo anterior. Sim, mas e a cultura entendida de outra maneira, a que vempelos sons musicais, pela cores, pela expressão corporal, pelos celuloides etc? Não nos esqueçamos da máxima latina: pão e circo. A cultura que alimenta nossa alma é também a representação de um grupo, de uma comunidade, de um município, de um Estado, de uma nação. E ela, enfim, que lhes dá identidade. Sem ela, não somos animais humanos. Ou então não passamos de bichos da terra tão pequenos, no dizer camoniano.
Com a devida vênia, Excelentíssimo Alcaide, é inconcebível que alguém que tenha passado pela Universidade, e pelo curso de Medicina, seja tão insensível às questões culturais. O Executivo municipal argumentará: “ – Ô, cronista, não temos recursos para a cultura!” Eu lhe respondo: encontros sabatinos, pelas manhãs, de grupos musicais, literários, pictóricos, na Praça Ruy Barbosa, por exemplo, são tão caros assim para o Erário? E o Museu do Lavrador, onde foi parar a Hístória de Ipiaú? Que tal a construção aqui de uma Biblioteca Municipal e dar-lhe o nome de Professor Edwaldo Santiago (Tatai) ou de Vereador Adílson Duarte, dois cultores da cultura ipiauense? Penso que apenas com esta ação Vossa Excelência passaria definitivamente para a História deste município.
Faça alguma coisa, urgente, pela cultura ipiauense, antes que outras vassouras-de-bruxa arrasem de vez nosso município, Excelentíssimo Alcaide.
*Dr.Vitor Hugo Martins. Professor da UNEB – Campus XXI, Ipiaú. Cronista, contista e poeta.
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